Blog

ISACs no Brasil: Como o Modelo Internacional de Inteligência Cibernética Fortalece a Segurança Digital

Em um cenário onde os ataques cibernéticos se tornam cada vez mais sofisticados, o Brasil dá um passo decisivo para transformar sua postura defensiva em uma estratégia de inteligência coletiva. Com a publicação da Portaria GSI/PR nº 148 de 2025, o país formaliza a criação dos ISACs no Brasil, um modelo que fortalece a inteligência cibernética — estruturas inspiradas em modelos internacionais já consolidados nas maiores economias do mundo.

Imagem representativa de como seria o ISACs no Brasil.

A iniciativa coloca o Brasil em sintonia com as estratégias de cibersegurança mais avançadas globalmente. Estados Unidos, Canadá, Japão, União Europeia, Singapura e Índia operam ISACs setoriais há anos, conforme documentado pelo National Council of ISACs, promovendo a troca de informações sobre ameaças e coordenando ações de resposta que beneficiam ecossistemas inteiros.

No Brasil, os centros reunirão representantes dos setores público e privado em segmentos estratégicos — como energia, finanças, telecomunicações, transportes e saúde — com o objetivo de compartilhar informações sobre ameaças em tempo real, especialmente em um momento em que ataques coordenados contra infraestruturas críticas se intensificam.

O Poder da Inteligência Distribuída na Cibersegurança

A lógica dos ISACs é direta: inteligência distribuída para conter riscos exponenciais. Um exemplo claro seria um ataque de ransomware contra uma operadora logística. Em vez de reagir isoladamente, a empresa comunica o incidente ao ISAC setorial, que redistribui os dados, permitindo que outras organizações reajam proativamente. O que antes era um incidente localizado se transforma em um alerta preventivo para toda a cadeia.

A experiência internacional demonstra que os setores que implementaram ISACs maduros conseguiram reduzir significativamente o tempo médio de detecção e resposta a ameaças. No setor financeiro americano, o FS-ISAC tem permitido que instituições financeiras identifiquem campanhas de phishing com maior antecedência, conforme documentado pelo Cyber Security Summit Brasil.

Mais do que um canal de alertas, os ISACs funcionam como centros de inteligência estratégica, onde as organizações constroem coletivamente conhecimento e capacidade de resposta, especialmente relevante em um país com dimensões continentais como o Brasil.

Benefícios dos ISACs no Brasil para as organizações

A implementação dos ISACs no Brasil traz benefícios tangíveis para as organizações participantes:

Acesso a inteligência qualificada: O FS-ISAC nos EUA fornece alertas de ameaças específicas ao setor financeiro regularmente. Esta abordagem de inteligência antecipada é similar à oferecida pelo Cyber Fusion Center da Asper, que opera com inteligência preditiva para antecipar ameaças.

Redução do tempo de resposta: Organizações participantes de ISACs conseguem melhorar significativamente seus tempos de detecção e resposta, conforme relatório da Cisco. Durante eventos de segurança globais, como o ataque WannaCry, membros de ISACs setoriais implementaram medidas de proteção mais rapidamente que a média do mercado. Além disso, o uso de sistemas de orquestração de resposta a incidentes (SOAR) integrados aos ISACs tem se mostrado uma prática eficaz em centros maduros, conforme demonstrado em publicações da MITRE e da ENISA. Tais integrações reduzem significativamente o tempo de contenção e remediação de incidentes.

Imagem que representa o contraste do antes e depois de adoção de ISACs

Economia de recursos: Estudos do Ponemon Institute indicam que organizações participantes de ISACs conseguem otimizar seus investimentos em segurança ao evitar duplicação de esforços de análise e aproveitar a inteligência coletiva do setor.

Visão ampliada de ameaças: O E-ISAC proporciona aos seus membros acesso a uma base de conhecimento sobre ameaças específicas ao setor elétrico significativamente maior do que organizações individuais conseguiriam construir. Esta visibilidade expandida é crucial para identificar campanhas direcionadas a setores específicos.

Alinhamento regulatório: Organizações participantes de ISACs demonstram maior conformidade com requisitos regulatórios relacionados à segurança cibernética, conforme a Financial Services Roundtable. Reguladores como o Banco Central do Brasil já sinalizaram que a participação em ISACs será considerada um indicador positivo em avaliações de maturidade.

ISACs como Estratégia de Mercado e Diferencial Competitivo

A nova portaria prevê que os ISACs serão organizados por setores econômicos ou domínios técnicos. Empresas interessadas deverão buscar integração com o ISAC mais compatível com sua atividade e se comprometer com padrões mínimos de segurança, confidencialidade e interoperabilidade, conforme a Portaria GSI/PR nº 148.

Não se trata apenas de segurança. Trata-se de estratégia de mercado. A aproximação com o governo, a antecipação de exigências regulatórias e o acesso a inteligência qualificada podem representar uma vantagem competitiva clara, sobretudo em setores com forte pressão de compliance. Em um mercado onde a confiança se torna cada vez mais um diferencial competitivo, participar ativamente dos ISACs sinaliza compromisso com a segurança do ecossistema como um todo.

As organizações que adotarem uma postura proativa neste movimento estarão se posicionando como líderes em maturidade digital e responsabilidade corporativa. Em um cenário onde incidentes de segurança frequentemente ganham manchetes, demonstrar comprometimento com práticas colaborativas pode ser um diferencial significativo na construção da confiança de clientes e parceiros.

O Papel da Threat Intelligence na Era dos ISACs

A eficácia dos ISACs está diretamente ligada à qualidade da inteligência de ameaças compartilhada entre os participantes. Neste contexto, soluções robustas de Threat Intelligence se tornam fundamentais para:

Coleta e processamento de dados: O FS-ISAC processa diariamente um grande volume de indicadores de comprometimento compartilhados por seus membros. Esta abordagem proativa encontra paralelo no Cyber Fusion Center da Asper, que utiliza tecnologias de big data para transformar indicadores em inteligência acionável.

Os ISACs operam segundo o ciclo de vida da Threat Intelligence: coleta, processamento, análise, disseminação e feedback, prática recomendada por estruturas como o MITRE ATT&CK e frameworks da ENISA.

Imagem que representa o ciclo de vida Threat Intelligence no contexto dos ISACs

Contextualização de ameaças: O Health-ISAC tem documentado como a contextualização setorial de alertas de segurança reduz significativamente os falsos positivos em ambientes hospitalares. O Cyber Fusion Center da Asper já opera com esta filosofia, aplicando contexto setorial aos alertas.

Automação de respostas: O E-ISAC tem demonstrado como empresas do setor elétrico que implementam automação baseada em inteligência compartilhada conseguem melhorar seus tempos de contenção de ameaças. Esta capacidade é potencializada no Cyber Fusion Center da Asper, onde a orquestração permite implementar contramedidas em múltiplos sistemas simultaneamente. 

Imagem que representa a integração técnica ideal com ISACs

Organizações com integração SIEM + SOAR + feeds STIX/TAXII conseguem automatizar detecções baseadas em IoCs provenientes dos ISACs, reduzindo o Mean Time to Respond (MTTR) e o Mean Time to Detect (MTTD), potencializando a capacidade de defesa das organizações participantes.

Correlação de eventos: Durante ataques coordenados contra setores específicos, os ISACs têm conseguido identificar padrões que conectam incidentes aparentemente isolados em diferentes organizações. Esta visão holística é uma das marcas registradas do modelo de Cyber Fusion Center, que evoluiu além do SOC tradicional.

Métricas de eficácia: O Automotive ISAC implementou frameworks de métricas que demonstram melhorias significativas no tempo de remediação de vulnerabilidades críticas entre fabricantes participantes. Operações maduras, como as encontradas em Cyber Fusion Centers, utilizam dashboards em tempo real para demonstrar o valor da inteligência compartilhada.

Assim como os ISACs elevam a colaboração interorganizacional, sua eficácia está diretamente relacionada à adoção de boas práticas técnicas reconhecidas, como:

  • Integração com plataformas de Cyber Threat Intelligence (CTI).
  • Segmentação de setores críticos para melhor direcionamento da inteligência.
  • Alinhamento a frameworks como o NIST SP 800-150, ISO 27035 e MITRE ATT&CK.

Desafios na Implementação dos ISACs no Brasil

Apesar dos benefícios evidentes, a implementação bem-sucedida dos ISACs no Brasil enfrentará desafios significativos:

  1. Cultura de sigilo: Uma pesquisa da Cisco revelou que muitas organizações brasileiras ainda relutam em compartilhar informações sobre incidentes, temendo impactos reputacionais. Esta barreira cultural precisará ser superada para o sucesso dos ISACs no Brasil.
  1. Assimetria de maturidade: O relatório do Instituto Igarapé documentou diferenças significativas nos níveis de investimento em segurança entre empresas brasileiras. Esta disparidade pode criar desequilíbrios na qualidade das contribuições aos ISACs.
  1. Sustentabilidade financeira: Um estudo do GSI estimou que a operação plena de um ISAC setorial no Brasil exigiria investimentos anuais significativos. O modelo de financiamento misto (público-privado) tem se mostrado eficaz internacionalmente, mas ainda não há clareza sobre o modelo brasileiro.
  1. Padronização técnica: Um projeto-piloto de compartilhamento entre bancos brasileiros enfrentou dificuldades devido à incompatibilidade de formatos. A adoção de padrões como STIX/TAXII será crucial para o sucesso da iniciativa brasileira e para garantir a interoperabilidade entre diferentes setores.

A experiência internacional mostra que ISACs bem-sucedidos geralmente começam com um escopo limitado e expandem gradualmente suas atividades à medida que a confiança e o valor percebido aumentam.

Como Preparar sua Organização para a Era dos ISACs

Para aproveitar ao máximo os benefícios dos ISACs, as organizações precisam:

  1. Avaliar sua maturidade atual: Um estudo da Gartner revelou que muitas organizações superestimam sua capacidade de consumir e aplicar inteligência de ameaças externa. Uma avaliação estruturada pode ajudar a identificar lacunas específicas na capacidade de processamento de inteligência.
  1. Estabelecer processos internos: Organizações que implementam processos formais para gestão de inteligência antes de ingressar em ISACs obtêm maior valor da participação, segundo o Ponemon Institute. A criação de equipes dedicadas à análise e aplicação de inteligência externa pode aumentar significativamente a implementação de contramedidas eficazes.
  1. Capacitar equipes: Segundo a ISACA, apenas uma parcela dos profissionais de segurança no Brasil possui treinamento formal em análise de inteligência de ameaças. Esta abordagem de desenvolvimento contínuo é similar à adotada no Cyber Fusion Center da Asper, onde analistas recebem treinamento especializado.
  1. Implementar tecnologias habilitadoras: Um estudo da Gartner mostrou que organizações com plataformas dedicadas de Threat Intelligence Management conseguem operacionalizar mais indicadores de ameaças. A implementação de APIs para ingestão automatizada de feeds de ISAC multiplica o valor da inteligência compartilhada.
  1. Desenvolver cultura de compartilhamento: Um programa no setor bancário brasileiro documentou que organizações com políticas claras sobre o que pode ser compartilhado contribuem mais efetivamente para o ecossistema de inteligência coletiva. Líderes que comunicam regularmente o valor do compartilhamento ajudam a estabelecer uma cultura colaborativa.

A preparação para participar efetivamente dos ISACs deve começar bem antes da adesão formal, com práticas internas que facilitem a futura integração.

Práticas Técnicas Recomendadas para Integrar ISACs com Eficiência

Para maximizar os benefícios da participação em um ISAC, as organizações devem adotar as seguintes práticas técnicas:

  • Implementar padrões STIX/TAXII: Estes são os formatos abertos mais utilizados para compartilhamento estruturado de Indicadores de Comprometimento (IoCs) e Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTPs), assegurando interoperabilidade entre sistemas e parceiros.
  • Utilizar Plataformas de Threat Intelligence (TIP): Ferramentas como o MISP (Malware Information Sharing Platform) permitem organizar, enriquecer e distribuir a inteligência recebida dos ISACs, facilitando a automação e o compartilhamento interno.
  • Integrar com ferramentas de automação e resposta (SOAR): A adoção de playbooks automáticos, como os disponíveis no Cortex XSOAR ou Splunk SOAR, permite reagir rapidamente a IoCs críticos distribuídos pelos ISACs.
  • Criar política interna de compartilhamento de incidentes: Estabelecer diretrizes claras sobre quais informações podem ou devem ser compartilhadas, incluindo níveis de anonimização, e definir responsáveis pela aprovação, como o CISO ou DPO.
  • Testar e validar indicadores: Antes de agir sobre IoCs recebidos, as organizações devem verificar a validade e relevância com ferramentas adequadas, garantindo a efetividade das ações de resposta.
  • Realizar simulações baseadas em cenários compartilhados: Por exemplo, treinar equipes para responder a campanhas de phishing simuladas que refletem ameaças reais relatadas ao ISAC.

O Futuro da Segurança é Colaborativo

A adoção dos ISACs no Brasil representa mais que uma mudança técnica é uma transformação cultural na forma como abordamos a segurança cibernética. Ao migrar de um modelo isolado para uma abordagem colaborativa, o país dá um passo significativo na direção de um ecossistema digital mais resiliente e preparado para enfrentar ameaças cada vez mais sofisticadas.

Esta evolução colaborativa encontra paralelo na transformação dos centros de operações de segurança tradicionais para modelos mais avançados, como os Cyber Fusion Centers da Asper, que integram múltiplas disciplinas de segurança e fontes de inteligência. Assim como os ISACs representam uma evolução na colaboração interorganizacional, os Cyber Fusion Centers marcam uma transformação na colaboração intraorganizacional, criando um ecossistema onde a inteligência flui livremente e se transforma em ação preventiva.

As organizações que compreenderem o valor estratégico desta mudança e se posicionarem proativamente neste movimento estarão não apenas fortalecendo suas defesas individuais, mas contribuindo para a elevação da maturidade digital do país como um todo. Em um mundo onde os ataques cibernéticos ignoram fronteiras organizacionais e geográficas, a inteligência compartilhada se torna não apenas uma vantagem competitiva, mas uma necessidade estratégica.

Os ISACs brasileiros chegam como uma plataforma para materializar esta visão e transformar a maneira como protegemos nossos ativos digitais mais valiosos. O momento de começar a preparação é agora, antes mesmo que os primeiros ISACs setoriais estejam plenamente operacionais no país.

Asper é reconhecida como Leader pela ISG

Categorias

Clique aqui e confira como baixar o estudo gratuitamente!


Assine nossa Newsletter

Nossos Escritórios

SEDE

São Paulo, SP
Rua Ministro Jesuíno Cardoso, 454, Edifício The One, Sala 83, Vila Nova Conceição - CEP: 04544051
(11) 3294-6776

FILIAIS

Rio de Janeiro, RJ
Avenida das Américas, 3434, Bloco 7, Salas 602 e 603, Barra da Tijuca, CEP: 22640102
(21) 2186-7594

Florianópolis, SC
Square Corporate, Torre Jurerê B, Sala 214 e 216, Rodovia José Carlos Daux, 5500, Saco Grande, CEP: 88032005

Brasília, DF
SHIS QI 03 Bloco F, 1º andar, Comércio Local,
CEP: 71605450
(61) 3047-8777

New York, NY
1270 Avenue of the Americas, Suite 210
New York, NY 10020

Asper © . Todos os direitos reservados.

Logo_Aguiar_black 1